14 de março de 2012

YOGA DANCE - DIA 17 DE MARÇO ÀS 10H00 - ACADEMIA D'ARTES

PRÁTICA INTENSIVA DE YOGA - DIA 24 DE MARÇO ÀS 16H00 - ACADEMIA D'ARTES

AS MUDRĀS DO HATHA YOGA

Selos (mudrās) e contracções (bandhas), constituem o terceiro membro do Hatha Yoga, a terceira lição, e estão associados às posturas (āsanas), interagindo com elas.

As mudrās são técnicas muito avançadas e algumas possuem um grau bastante elevado de dificuldade na sua execução, outras fundem-se com práticas meditativas.

“São divinas”, afirma Svātmārāma o autor do Hatha Yoga Pradīpikā “e geram os oitos grandes poderes paranormais. São apreciados por todos os yogins e difíceis de realizar, até mesmo para os Marut (deuses do ar).

Svātmārāma disse ainda que “devem ser guardadas em segredo e não podem ser ensinados a qualquer um – para usar uma comparação que ele mesmo faz – não se deve revelar que mantivemos relações sexuais com uma mulher de casta superior”.

Os bandhas são contracções, movimentos específicos do corpo que auxiliam na retenção da força vital (prāṇa).

No Gheraṇḍa Saṁhitā são descritos 25 mudrās, que incluem os bandhas, por esta ordem.

1. Mahamudrā – O grande selo

Sentado com o calcanhar esquerdo pressionando a região do períneo e conservando a perna direita estendida. Segure os dedos do pé direito e execute mūlabandha contraindo o ânus, jālandharabandha contraindo a garganta e bhrūmādhya drishti fixando o olhar nas sobrancelhas. Deve ser repetido para o outro lado e feito com os pulmões vazios.

Cura a tuberculose, prisão de ventre, dilatação do baço, indigestão e febre, na realidade cura todos os males.

2. Nabhomudrā – Selo celestial

Pode ser executado em qualquer lugar, em todo o instante e realizando qualquer actividade. Retenha a respiração e leve a língua para cima de modo a tocar o céu-da-boca. Consiste na execução do jīhvabandha mas com moderação.

Cura todos os males dos yogins.

3. Uḍḍīyānabandha – Contracção do caminho para cima ou voo ascendente

Contracção do abdómen acima e abaixo do umbigo, para dentro e para cima empurrando as vísceras de encontro às costas. A sua execução é mais fácil de ser alcançada se for feita sem ar nos pulmões.

Aquele que praticar sem cessar conquistará a morte. O grande pássaro da respiração, com este processo, é imediatamente forçado a penetrar suṣumṇā e ali voará livremente. De todos os bandhas, este é o melhor porque gera a fácil emancipação da kuṇḍalinī.

4. Jālandharabandha – Contracção do pote

Contracção do queixo no peito ou contracção da garganta. Recue ligeiramente a cabeça e tombe-la à frente levando o queixo a comprimir o alto do peito, na depressão jugular e sem desfazer a verticalidade da coluna ou flexionar o tronco à frente. Neste bandha os dezasseis ādhāras (suportes) são fechados. Esta grande mudrā destrói a morte.

Praticando esta mudrā durante seis meses o homem torna-se um perito no domínio da morte.

5. Mūlabandha – Contracção ou fecho da raiz

Coloque o calcanhar esquerdo junto do períneo e contraia o esfíncter do ânus. Contraia também o baixo-ventre de encontro à espinha e posicione o calcanhar direito sobre o órgão reprodutor. Este é o mūlabandha, destruidor da decadência.

A pessoa que deseje atravessar o oceano samsāra, deve ir a um lugar isolado para santamente praticar esta mudrā. Com tal prática o prāṇa vayu é indubitavelmente controlado. Deve-se praticá-lo em silêncio, sem preguiça e cuidadosamente.

6. Mahābandha – Grande contracção

Feche a abertura anal com o calcanhar esquerdo e contraia os esfíncteres do ânus e uretra. Retenha a respiração executando o jālandharabandha. Isto é denominado mahābandha.

O mahābandha é o maior bandha, destrói a decadência e a morte. Dominando-o, todos os desejos do homem se realizam.

7. Mahāveda – Grande penetrador

Assim como a beleza, a mocidade e os encantos de uma mulher são inúteis sem homens, também o mūlabandha e o mahābandha o são sem o mahāveda. Sente-se em mahābandha e retenha a respiração executando o uḍḍīyānabandha. Isto é denominado mahāveda, doador de sucessos para os yogins.

Na realidade o mahāveda consiste na percussão do ânus sobre um dos calcanhares depois de feito o mahābandhāsana e o mūlabandha.

O yogin que diariamente pratica o mahābandha e o mūlabandha é o melhor de todos os praticantes. Não teme a morte e a decadência jamais se aproxima dele. Este veda deverá ser mantido cuidadosamente em segredo pelos yogins.

8. Kechārīmudrā – Selo daquele que anda no espaço

Corte o freio da língua e mexa-a sem parar, depois esfregue-a com manteiga fresca e alongue-a puxando para fora com um instrumento de ferro.

Pratique levando a língua para cima e para trás, para tocar o céu-da-boca, até que consiga atingir as cavidades das narinas. Feche estas cavidades com a língua parando a respiração e fixe o olhar no ponto entre as sobrancelhas (trikuti). Isto é denominado kechārī.

O corpo não poderá ser queimado com fogo, nem ressecado pelo ar, nem molhado com água e nem tampouco mordido por serpentes. Ficará simplesmente lindo e o samādhi será facilmente alcançado. Afirma-se que com o toque da língua na raiz da garganta será libertado o néctar divino (amṛta). Com a produção desses néctares de várias naturezas, dia após dia, o homem experimentará novas sensações. Primeiro sentirá um gosto salgado, depois alcalino, em seguida amargo, adstringente, depois o gosto da manteiga de ghee, de mel, de sumo de palmeira e por fim sentirá o gosto do néctar maior.

9. Viparītakaranimudrā – Selo de acção invertida

O sol encontra-se na raiz do umbigo e a lua na raiz do céu-da-boca. Como o sol consome o néctar o homem está sujeito à morte. O processo pelo qual o sol é levado para cima e a lua para baixo é denominado viparītakarani e é uma mudrā sagrada em todos os tantras.

Coloque a cabeça no solo com as mãos abertas, levante as pernas e permaneça firme, isto é chamado de viparītakarani. A explicação não é muito elucidativa mas o que se conhece por viparītakarani nos dias de hoje, é o sarvāngāsana (invertida sobre ombros).

O simbolismo do texto procura expressar o facto de que o prāṇa solar flui do plexo solar para cima e o apāna (prāṇa lunar) do plexo laríngeo para baixo. A viparītakaranimudrā procura unir os dois prāṇas, ou seja, o Ha e o Tha.

Com a prática constante desta mudrā, a decadência e a morte são destruídas. O praticante ficará um perito jamais falecendo em pralaya. Morrerá quando desejar e nunca de morte natural.

10. Yonimudrā – Selo uterino

Sente-se em siddhāsana, tape os ouvidos com os polegares, os olhos com os indicadores, as narinas com os dedos médios, os lábios superiores com os dedos anelares e os lábios inferiores com os dedos mínimos. Inspire o prāṇa vayu pela kaki mudrā juntando-o com o apāna vayu, contemplando os seis chakras na sua ordem ascendente. Deixe o sábio acordar a deusa serpente kuṇḍalinī repetindo o mantra rum e haṁsa. Levantando a shakti com jiva, coloca-o no lato das mil pétalas. Estando cheio de shakti e unido com o grande Śiva, medite sobre a união de Śiva com shakti neste mundo. Sendo de todo bem-aventurado, compreenderá que ele é Brahman. Esta yoni mudrā é um grande segredo, difícil de ser conquistada, mesmo para os grandes devas. Uma vez conquistada a perfeição desta prática, indubitavelmente o yogin entrará em samādhi.

Praticando esta mudrā, jamais se será manchado com o pecado de matar um brahmana, matando um feto, bebendo licor ou manchando a cama do mestre. Todos os pecados são completamente destruídos com a prática desta mudrā. Pratica-a se almejas a libertação.

11. Vajrolīmudrā – Selo do raio

Coloque as palmas das mãos no chão, apoia a cabeça no solo e levanta as pernas no ar. Isto acordará a shakti, provoca uma vida longa e é denominado vajrolī pelos sábios.

Esta é a prática mais elevada do yoga, conduz à libertação e dá perfeição aos yogins. Em virtude desta prática de yoga, o bindusiddhi é alcançado. Apesar de mergulhado em prazeres, se praticar esta mudrā, alcançará indubitavelmente todas as perfeições.

12. Shakticālanīmudrā – Selo que desperta o poder

A grande deusa kuṇḍalinī, a energia do ser, atman shakti, dorme no mūlādhāra. Tem a forma de uma serpente e permanece enrolada em três voltas e meia. Enquanto estiver adormecida no corpo, o jīva será um animal e a verdadeira sabedoria não surgirá, mesmo se praticar dez milhões de yogas.

Assim como a porta é aberta por intermédio de uma chave, o acordar da kuṇḍalinī pelo hatha yoga faz abrir a porta de Brahman. Enrolando o dorso com um pedaço de pano, sentado num aposento secreto e isolado, pratica a shakticālanī. O pano deve ter um cúbito de comprimento e três de largura, macio e de fino tecido.

Passa cinzas pelo corpo, senta-te em siddhāsana respirando o prāṇa vayu com as narinas. Energicamente junta-o com o apāna vayu contraindo o esfíncter anal com o aśvinī mudrā até que o vayu entre em suṣumṇā e manifeste a sua presença. Retendo a respiração por kumbhaka, a serpente kuṇḍalinī sentindo-se a sufocar acordará e subirá até brahmarandhra.

Sem shakticālanī, a yoni mudrā não é completo nem perfeito. Primeiro deverá ser praticada a cālanī e em seguida a yoni mudrā. Ó Canda Kapāli, assim te ensinei o shakticālanī, conserva-o com cuidado e pratica-o diariamente.

Esta mudrā deverá ser guardada cuidadosamente oculta. Destrói a decadência e a morte, por isto, o yogin que deseja almejar a perfeição deverá praticá-lo. O yogin que o fizer diariamente será sábio e alcançará vigraha siddhi, todos os seus males serão cuidados.

13. Tādāgīmudrā – Selo do lago

Deitado de costas voltadas para o solo, faz com que o abdómen pareça uma cavidade contraindo-o para dentro (uḍḍīyanabandha). Isto é tādāgīmudrā, destruidora da decadência e da morte.

14. Maṇḍūkamudrā – Selo do sapo

Fecha a boca e encosta a língua no véu palatal, provando lentamente o néctar que flui do loto das mil pétalas (jīhvabandha). Esta é a mudrā do sapo.

O corpo nunca ficará velho nem doente, permanecendo perpetuamente jovem. O cabelo daquele que praticar esta mudrā nunca ficará branco.

15. Shambhavīmudrā – Selo de Shambhu

Fixe o olhar entre as sobrancelhas e contemple a própria existência, isto é shambhavi, secreto em todos os tantras.

Os vedas e os purānas são como uma mulher do público, mas este shambhavi deverá ser guardado como se fosse uma senhora de família respeitada.

Aquele que sabe este shambhavi é como o adinātha, ele é Nārāyana, é Brahman o criador. Disse Mahesvara: “ Verdade, verdade e mais uma vez verdade, aquele que domina o shambhavi é Brahman, não resta nenhuma dúvida sobre isto.

As cinco Dhāranas mudrās – As cinco concentrações nos elementos

O facto destas práticas de concentração estarem catalogadas como mudrās evidencia a íntima relação que existe entre as práticas físicas e mentais no yoga, podemos mesmo afirmar a existência de uma relação simbiótica entre o físico e a mente mas na realidade nada têm a ver com o hatha yoga.

O shambhavi já foi explicado, ouve agora os cinco dhāranas. Aprendendo-os, o que não poderá ser alcançado neste mundo?

Por intermédio deste corpo pode-se visitar e revisitar svargaloka, ele pode ir para onde se quiser, tão rapidamente quanto a mente, adquirindo o poder de se mover no ar.

(Svargaloka é o terceiro céu dos tantras, o paraíso de Indra)

16. Prithivi Dhārana – Concentração no elemento terra

A prithivi tattva tem a cor amarelo-alaranjado e o som lam é o seu simbolismo secreto ou bīja. A sua forma é de quatro lados e Brhaman o seu deus predominante. Coloca este tattva no coração e fixa em kumbhaka, o prāṇa vayu e chitta, durante o tempo de cinco ghatikas. Isto é denominado adhodhārana.

(Cinco ghatikas correspondem a cerca de 3 horas. Chitta é a matéria mental)

Por intermédio deste tattva conquista-se a terra e nenhum elemento terrestre conseguirá prejudicar-te, provoca a firmeza.

Aquele que praticar diariamente este dhārana ficará como o conquistador da morte. Caminhará como um adepto por este mundo fora.

17. Ambhasi Dhārana – Concentração no elemento água

O tattva água é branco como a flor kunda ou como uma concha, a sua forma é semicircular como a lua e o seu som é vam, é a semente deste elemento ambrosial sendo que Vishnu é a divindade que o preside. No yoga produz o tattva de água no coração, fixando aí o prāṇa com chitta durante um período de cinco ghatikas em kumbhaka. Este é o dhārana aquático, é o destruidor de todas as mágoas. O afogamento não poderá fazer mal a aquele que o praticar.

O ambhasi é uma grande mudrā, o yogin que o conhecer nunca morrerá, mesmo nas águas mais profundas. Isto deverá ser guardado em segredo e revelando-o a quem quer que seja, perde-se o sucesso. Realmente isto é verdade.

18. Agneyi Dhārana – Concentração no elemento fogo

O tattva do fogo fica situado no umbigo, a sua cor é vermelha como o insecto indragopa, a sua forma é triangular, a sua semente é o ram e a divindade predominante é Rudra. É refulgente como o sol, o doador do sucesso. Fixa o prāṇa com chitta neste tattva durante cinco ghatikas. Este é o dhārana do fogo, destruidor do medo e da morte horrível, sendo que o fogo não poderá fazer-te mal algum.

Mesmo se o praticante for lançado num fogo em chamas, por intermédio deste mudrā ficará vivo, jamais receando a morte.

19. Vāyavi Dhārana – Concentração no elemento ar

O tattva do ar é negro como um unguento para os olhos, o som yam é a sua semente e ishvara a sua divindade predominante. Este tattva está cheio de qualidades de sattva. Fixa o prāṇa e chitta durante cinco ghatikas neste tattva. Este é o vāyavi dhārana, com ele, o praticante consegue andar no ar. Esta grande mudrā, destrói a decadência e a morte. O seu praticante nunca será morto por distúrbios aéreos, dominando-a, o praticante poderá andar no ar. Jamais deverá ser ensinado aos maus e indignos de confiança, o contrário e o sucesso será perdido. Ó Canda, esta é a verdade.

20. Ākashi Dhārana – Concentração no elemento éter

O Ākasha tattva é da cor água pura do mar, o ham é o seu som semente e a sua divindade predominante é Sadashiva. Fixa o prāṇa com chitta durante cinco ghatikas neste tattva, este é o dhārana etéreo e abre a porta da libertação.

Aquele que dominar este dhārana será o yogin verdadeiro, a morte e a velhice jamais se aproximarão dele e nunca morrerá de pralaya.

21. Aśvinīmudrā – Selo do cavalo do amanhecer

Contrai e dilata a abertura anal repetidas vezes. Isto é a aśvinīmudrā e acorda a shakti kuṇḍalinī. Este aśvinī é uma grande mudrā, elimina todas as doenças do recto, dá força e vitalidade impedindo a morte prematura.

22. Panshinimudrā – Selo do lançador de pássaros

Coloca as duas pernas atrás do pescoço, segura-as com bastante força como um laço. Esta é a panshinimudrā, que acorda a shakti de kuṇḍalinī. Esta grande mudrā dá força e alimento, deverá ser praticada com cuidado por aqueles que desejam o sucesso.

23. Kākīmudrā – Selo do corvo

Contrai os lábios reproduzindo o bico de um corvo, bebe (aspira) o ar lentamente por repetidas vezes. Esta é a kākīmudrā, destruidora de todas as moléstias. A kākī é uma grande mudrā, conservada secreta em todos os tantras. Por intermédio dela fica-se livre de todas as doenças, do mesmo modo que o corvo.

24. Mātanginīmudrā – Selo do elefante

Entra dentro de água e fica de pé com ela até ao pescoço. Bebe a água pelas narinas e expele-a pela boca (neti) e em seguida bebe pela boca e expele-a pelas narinas. Repete-o muitas vezes. É denominada a mudrā do elefante, eliminadora da decadência e da morte.

Num lugar solitário e livre da observação humana, pratica esta mudrā com muita atenção. Assim feito, o praticante adquirirá a força de um elefante. Onde quer que o praticante se encontre realizando esta mudrā, gozará sempre de muita alegria. Por isto, esta mudrā deverá ser realizada com muito cuidado e atenção.

25. Bhujanginīmudrā – Selo da serpente

Incline ligeiramente a cabeça à frente e beba (aspire) o ar pela garganta produzindo um suave ruido. Esta é a mudrā da serpente, destruidora da decadência e da morte. Esta mudrā elimina rapidamente todos os males do estômago, em especial a indigestão e a dispepsia.

“Ó Canda Kapali! Assim te ensinei o capítulo sobre as mudrās. Este é venerado por todos os adeptos e destrói a decadência e a morte. Isto não deverá ser ensinado indiscriminadamente. Este segredo deverá ser guardado com cuidado, embora seja difícil até para os deuses. Estas são as mudrās que levam à felicidade e à libertação. Só devem ser ensinadas a uma pessoa sincera, calma, simples, devotada ao mestre e de boa família.

Elas destroem todos os males e aumentam o fogo gástrico, se praticados diariamente. A morte jamais chegará aos yogins que as praticam, nem tampouco a decadência. Eles não temerão nem o fogo, nem a água e nem o ar. A tosse, asma, dilatação do baço, lepra e fleuma são verdadeiramente eliminados com a prática destas mudrās. Ó Canda! Que mais devo contar-te? Em poucas palavras, não há nada como as mudrās para levar-nos a um rápido sucesso.”

Fim da terceira lição.

Retirado do livro “Hatha Yoga, a ciência da saúde perfeita”

Do Professor Caio Miranda

DRISHTI

Definição: Técnica de fixação do olhar. O termo drishti deriva da palavra drish, que significa literalmente olhar.

Estes exercícios surgem como uma ferramenta para a prática de dhāranā (concentração) e dhyāna (meditação). Esta técnica é uma ferramenta, um mecanismo para induzir ou facilitar a meditação, é usado como meio de partida para a execução de ekāgratā (um só ponto) e necessária a participação activa da vontade e consciência para manter a concentração em um só ponto. É muito fácil de perceber que os efeitos são quase que imediatos quando usamos os drishtis.

Esta técnica é muito útil para auxiliar a prática de concentração ou meditação e ou aumentar o foco na acção que realizamos, também auxiliam a prática de exercícios respiratórios (prāṇāyāma) e por fim, a prática de certas posturas corporais (āsana). Exercem um efeito estimulante no sistema nervoso central, via nervos ópticos, auxiliando na estabilidade das frequências das ondas mentais e propiciando o processo de estabilização da mente.

Nas práticas tantricas usa-se a fixação do olhar no parceiro ou parceira, nos olhos ou numa outra determinada parte do corpo. No ashtanga vinyāsa yoga, os drishtis estão bem presentes no āsana e variam conforme a posição. São introduzidos pelo seu suporte à concentração, ao alinhamento e estabilidade da mente e recebem o nome de nava drishti. No hatha yoga os drishtis estão presentes em algumas das tradicionais mudrās descritas no Hatha Yoga Pradīpikā.

Apesar dos registos já mencionados, quanto à utilização dos drishtis, a sua realização pode muito bem extrapolar esses registos e ser ajustada ao livre arbítrio de cada um. Para além do suporte que dão na prática de meditação, use como instrumento gerador de concentração na prática de āsana e prāṇāyāma, explore os seus efeitos e diversifique na sua aplicação.

Efeitos: Melhoram a concentração e a capacidade de memória, são úteis para combater estados depressivos e de ansiedade. No plano subtil, estimulam o ajña chakra, promovem a intuição, a clarividência e a percepção das manifestações subtis das coisas.

No início, o esforço que é realizado pode mesmo tornar-se insuportável pelo desconforto ou cansaço ao tentar imobilizar o olhar mas procure manter a sua mente tranquila e relaxe. À medida da sua capacidade vá aumentando progressivamente o tempo de permanência e os seus olhos abituar-se-ão naturalmente. Os trātakas servem de consolo e compensação, realize posteriormente os trātakas para evitar lesões, relaxar e revitalizar os músculos e tendões oculares.

Não confunda drishti com trātaka. Drishti é a fixação do olhar, trātaka é a concentração num objecto exterior através da fixação ocular, pode ser feito com os olhos abertos ou fechados e trata-se de um exercício de percepção visual para manutenção e protecção ocular, meramente físico e sem intervenção mental, se me for possível dizer isto.

Estes são os drishtis mais representativos para a prática de meditação.

Nasāgra ou Nasikagra drishti (na extremidade do nariz):

1. Consiste na fixação do olhar na extremidade do nariz, usa-se nos exercícios respiratórios, nas posturas corporais e na meditação. Desenvolve a capacidade de concentração e estimula o ajña chakra.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e sem tombar a cabeça para a frente, deixe os olhos semifechados fixando o olhar no nariz, procure visualizar ambas as narinas e sem criar tensão alguma. Após algum tempo de permanência, feche os olhos e volte o seu olhar para dentro para o espaço interior da sua cabeça (chidākāsh) até que a consciência se absorva em si mesma.

Bhrūmādhya drishti (no intercílio ou trikuti, ponto entre as sobrancelhas ou ajña chakra):

1. Consiste na fixação do olhar num ponto entre as sobrancelhas, no trikuti, região do ajña chakra. Facilita e desenvolve os estados meditativos, concentração do pensamento e também produz uma sensação de estabilidade e firmeza.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e sem tombar a cabeça para trás. Direccione o olhar para o intercílio, para cima e ao centro ficando com a visão ligeiramente turva mas sem tensão ou desconforto. Após algum tempo de permanência, feche os olhos e volte o seu olhar para dentro para o espaço interior da sua cabeça (chidākāsh) até que a consciência se absorva em si mesma.

Bhūcharī drishti (no vazio):

1. Consiste em fixar o olhar no vazio. É uma excelente introdução à meditação gerando um estado de consciência de maior contemplação.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar num ponto ou pormenor do dorso da sua mão que se encontrará a um palmo de si e à altura do rosto. Após algum tempo de permanência retire a mão mas permaneça visualizando o mesmo pormenor ou ponto, anteriormente observado. Concentre-se por algum tempo no vazio.

Agni drishti (no fogo):

1. Fixação do olhar no fogo de uma vela ou fogueira.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Sente-se de frente a uma fogueira mantendo uma distância razoável de segurança e fixe a chama, fixe as variadas cores que se apresentam, fixe a luz emanada, o brilho e as formas que resultam e abstraia-se de tudo o resto. Permaneça por algum tempo de olhos abertos absorvendo cada pormenor e de seguida feche os olhos transportando a imagem para dentro da mente, mantendo a visualização da mesma como se estivesse de olhos abertos. Esta sugestão também é válida para o uso de uma vela.

Tāra ou Tāraka drishti (numa estrela):

1. Fixação do olhar em uma ou mais estrelas.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar no horizonte, procure uma estrela no negro do céu, procure o brilho mais intenso para facilitar a sua fixação. Deixe-se absorver pela imagem e abstraia-se de tudo o resto, faça-o de olhos sempre abertos ou feche e transporte o brilho da estrela para a sua mente.

Chandra drishti (na lua):

1. Fixação do olhar na lua em qualquer fase em que se encontre.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar no horizonte e observe cada pormenor na forma como a lua se apresenta, na luz que emana, na áurea à sua volta e abstraia-se de tudo o resto. Faça-o de olhos sempre abertos ou feche e transporte a imagem para a sua mente. Também poderá realizar este exercício recorrendo ao reflexo da lua num espelho, num lago ou no mar.

Sūrya drishti (no sol):

1. Fixação do olhar no sol, por hora do seu alvorecer ou quando se está a pôr e jamais na hora mais intensa da sua manifestação de calor e luz.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe o olhar no horizonte e observe o sol, mantenha o olhar firme na sua luz, na cor e na forma que apresenta. Faça-o de olhos sempre abertos ou feche e transporte a imagem para a sua mente.

Shakta ou shaktī drishti (no(a) parceiro(a):

1. Fixação do olhar no parceiro ou parceira, na imagem completa ou apenas em uma parte específica do corpo.

2. Sente-se de frente e o mais próximo possível do outro, fixe o seu olhar nos olhos, na boca ou em qualquer outra parte do corpo. Também poderá optar por manter uma determinada distância, a que achar necessária para conseguir observar a imagem do outro por completo. Para além de partilharem um momento de contemplação e meditação em conjunto, também poderão partilhar afecto e resoluções positivas para a relação.

Guru drishti (no mestre):

1. Fixação do olhar na imagem do mestre, no seu em um outro qualquer que represente para si algo merecedor da sua atenção.

2. Sente-se numa posição confortável, de costas erectas e mantenha os ombros descontraídos. Fixe a imagem do mestre através de uma foto ou quadro, nunca pessoalmente porque não seria de bom-tom. Escolha a imagem que represente para si o objectivo da meditação, a de um mestre ou divindade

Todos eles podem ser feitos com os olhos abertos e denominam-se por bahiranga drishti, externo ou voltado para o lado de fora e ou com os olhos fechados, antaranga drishti, internos ou subtís.

Os seguintes exercícios são os denominados nava drishti, do ashtanga vinyāsa yoga:

Nasāgra ou Nasikagra drishti: Fixação do olhar na extremidade do nariz

Bhrūmadhya drishti: Fixação do olhar no intercílio ou trikuti, ponto entre

as sobrancelhas, região do ajña chakra

Nabi drishti: Fixação do olhar no umbigo

Hastagrai drishti: Fixação do olhar numa das mãos

Pādayoragrai drishti: Fixação do olhar nos dedos dos pés

Pārshva drishti: Fixação do olhar para um ou para o outro lado do corpo, por cima do ombro (conta como dois exercícios independentes)

Angustha madhyai: Fixação do olhar nos dedos polegares

Ūrdhva ou Antara drishti: Fixação do olhar acima do rosto, para o céu